terça-feira, 25 de setembro de 2007

E-Paper

Eletronic Paper. Este termo refere-se a um dispositivo eletrônico que se parece com uma folha de papel e pode ser utilizado para ler textos carregados na memória. A idéia é que estes dispositivos tornem-se baratos o suficiente para substituir livros, revistas e outros impressos, que poderiam ser comprados em formato digital por preços módicos e serem lidos através do dispositivo. Isto permitiria que os autores vendessem seus trabalhos diretamente através da Web, eliminando atravessadores (como as editoras e livrarias) que encarem o material.

Existem várias tecnologias de E-paper. As duas que mais se destacam são a tecnologia Gyricon, desenvolvida pela Xerox e 3M e a E-Ink, desenvolvida pela Lucent.

Na Gyricon a tela é formada por duas folhas de plástico, contendo milhões de pequenas esferas, brancas de um lado e pretas do outro, que podem ser giradas utilizando eletricidade estática para formar a imagem. Na E-Ink são usados transístores e diodos emissores de luz. O princípio de funcionamento é semelhante ao dos monitores LCD, mas as telas são flexíveis e mais baratas. Existe também a possibilidade de criar telas coloridas. Nenhuma das duas tecnologias está pronta para o mercado, mas ambas prometem para os próximos anos.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

MÍDIA DIGITAL, O REFLEXO DE UMA ESTÉTICA

pesquisa por Gabriel Camos∗


Os avanços tecnológicos certamente causaram, e causam, mudançassignificativas no ser humano e em toda a sociedade. Presença constante e atuante nodia-a-dia, o computador já é visto como forma de expressão, registro e comunicação.Marco da contemporaneidade, o computador trouxe variações às formas de se pensar.

Computador, como definido pelo Dicionário Brasileiro Globo (1997), é “aqueleque faz contas”. Hoje em dia, porém, as operações que podem ser realizadas por umcomputador vão bem além da trivialidade algébrica, expandindo os motivos de sua invenção.

Historicamente, o primeiro artefato humano utilizado para realizar contas foi oábaco, com sua origem na Ásia Menor, há 500 anos, sofrendo grande diminuição naEuropa, em função da massificação do papel e da caneta.

As “engenhocas” facilitadoras da vida moderna surgem em 1642 com BlaisePascal e sua máquina de calcular, que com o auxílio de engrenagens e motoresmecânicos conseguia apenas somar. Em 1694 (52 anos depois), Leibniz consegue fazeruma máquina que multiplica, além de somar. A computação mecânica tem seu avançolento, conseguindo apenas em 1820 efetivamente realizar as quatro operaçõesaritméticas básicas. O surgimento dos computadores da forma como são conhecidoshoje se deu em 1812, com o projeto de Charles Babbage e sua busca pela “harmonianatural entre máquinas e matemática”, na qual as operações matemáticas repetitivaspoderiam ser desenvolvidas com mais agilidade e confiabilidade pelas máquinas do quepelos homens.


Em 1889, com o intuito de reduzir o tempo do censo demográfico nos EstadosUnidos de sete anos para seis semanas, Herman Hollerith desenvolveu uma máquinaque, além de conferir agilidade ao processo, instaurou a idéia de cartões perfuradoscomo forma de armazenamento de dados. Apesar de toda a evolução, a demanda deespaço para essas maravilhas mecânicas era muito grande. Em 1903, surgiu o conceitobinário com a adoção da álgebra booleana, utilizado até hoje. Mas foi apenas a partir daSegunda Guerra Mundial que o desenvolvimento dos computadores eletrônicos cresceu.Os alemães, de um lado, desenvolveram o Z3, capaz de projetar aviões e mísseis; dooutro lado, os britânicos desenvolveram o Colossus, para a decodificação dasmensagens nazistas.


O marco, no entanto, fica com o ENIAC, surgido a partir da Guerra Fria. Seuporte era tamanho que consumia energia equivalente a um bairro inteiro da cidade daFiladélfia. Sua relevância está na falta de propósito único. Ele era muito maisabrangente. Muito mais próximo da atualidade.


O salto para a modernidade e para a portabilidade deu-se a partir da substituiçãodas válvulas para os transistores, o que definitivamente alavancou a idéia do projetoatual dos computadores, compostos por uma unidade central e diversos periféricos.


Essa “modernização” foi um pouco mais complicada pela necessidade de saber oque “dizer” ao computador para que ele realizasse as funções desejadas. Estabeleceramseentão as linguagens de máquina, algo então completamente fora dos padrõeshumanos. A aproximação da linguagem a algo um pouco mais palatável, porém, fez quea popularidade das máquinas se tornasse mais real. A popularização das máquinaschegou ao ápice na década de 1980, com a invenção dos sistemas operacionais gráficos,que permitem diferentes programas serem executados simultaneamente – os ambientesmultitarefa. Essa característica permitiu uma flexibilização nos preços e tornou oscomputadores muito mais “amigáveis”.


O ambiente gráfico garantiu que o avanço tecnológico e a velocidade deprocessamento e transmissão de dados fossem cada vez maiores, possibilitando que osconteúdos acessíveis pelo computador não estivessem mais subordinados apenas aotextual, podendo apresentar-se de inúmeras formas, mais próximas do cognitivohumano, como sons, animações e principalmente imagens. Essa realidade acontece detal maneira que atualmente ícones, interfaces e imagens, que antes eram restritos aocomputador, estão cada vez mais presentes nas experiências cotidianas.


A expansão dos computadores e suas características fizeram que não só osrecursos físicos (hardware) crescessem, mas também a variedade dos dados gerados.


Essa inovação cria novas necessidades na comunicação. O computador diminuiua distância entre as pessoas. Criou-se uma rede mundial, de modo que o homem passa ater diferentes necessidades. O termo “virtual” passa a ter uma outra conotação. Essa é abase do uso das redes de computadores, a Internet.


A sociedade migra suas percepções para a nova realidade. Até a década de 1970,o computador era tido como vilão, pois substituiria o homem. Atualmente, a palavra deordem passa a ser “interage” com o homem. Críticas severas contra a tecnologiaseguiram e perseguiram aqueles que ousavam compactuar com tamanha heresia;atualmente, o oposto se dá.


Diante das novas percepções, o homem passou a integrar cada vez mais afacilidade gerada pela máquina com seus afazeres mais comezinhos. O homem social,ser limitado pelas características do individualismo (FEUERBACH, 1988, p. 194), valesedessa “novidade” e expande seu territorialismo. O computador deixa de ser um meroaparato, ou simplesmente uma mídia, e passa a ser mais um “ambiente”. Esse novoambiente é repleto de informações, ações e estímulos, em que o que importa de fato é acomunicação, a expressividade.


A digitalidade moderna, o intenso uso e até certo ponto a dependência docomputador quebraram e ao mesmo tempo criaram novos paradigmas. A idéia da redemundial criou novas possibilidades, inclusive pessoais e particulares. O conhecimento eexperiência nesse novo lugar (refiro-me ao termo utilizado em inglês: site) revelam omimetismo do homem com suas criações. A necessidade de que a máquina pense e sejamais próxima do ser humano criou novos processos e modelos mentais comdesenvolvimento contínuo, constante, baseados na psicologia cognitiva e na própriaergonomia humana.


O ambiente digital no qual o homem hoje transita é muito próximo das reaçõeshumanas; um ambiente em que o termo “virtual” ganha vida e forma, pois a informaçãoé constante, tudo é informação. Os mapas mentais, até então restritos à capacidadehumana, extrapolam seus limites e tornam-se parte do ambiente. A restrição dopensamento linear, já confrontado pela teoria da relatividade, desaparece. O pensamentonão é linear; como pode, então, uma representação mental ser? A multiplicidade dopensamento demanda formas diferentes de representação, exige principalmenteintegração e interação.


A partir da década de 1990, o homem passou a se envolver cada vez mais comos recursos tecnológicos, fazendo dele uma extensão do seu pensamento. Bem antesdisso, na década de 1960, Marshall MacLuhan já havia previsto essa “aldeia global”. Atelevisão seria esse ponto de união. A idéia da tele-visão não fora modificada, apenasampliada − som e imagem a distância, associados à interatividade. Os recursos“multimidiáticos”, surgidos com o advento do computador, uniram-se ao “boom” daInternet, a rede mundial, e ampliaram a percepção do homem nos quesitos espaço eatuação. O “receptor” passa a ser “emissor”, quebrando velhos paradigmas de quem faze quem recebe.


A ampliação das potencialidades da atuação humana, principalmente por meiodos novos dispositivos de meios de comunicação, resultou em novas formas deconceber o pensamento. A linearidade do pensamento já não é mais uma alternativa. Aleitura não está mais restrita a uma única direção, mas tem múltiplos e concomitantesrumos. A multimídia, utilização de vários recursos (visual e sonoro, simultâneos) dentrodo novo espaço, evolui; o assunto é hipermídia, e a preocupação é a informaçãopercebida, não apenas recebida. Em um mesmo “ambiente” é possível expor o“receptor” às mais diversas formas de informação, por meio da união de diversaslinguagens (escrita, visual, sonora etc.). A exposição à informação em muitos níveis deapresentação e aprofundamento privilegia outros modos de cognição que não apenas otextual. A ênfase em conceitos como a não-linearidade, a utilização de objetos visuais,confirmando a preocupação cognitiva aliada ao projeto de interface, reforça o caráterartístico da nova mídia, a hipermídia.


Esse novo ambiente – hipermídia – é exatamente a resultante de uma ideologiapós-moderna, a qual pressupõe uma reflexão sobre o tempo e o espaço. A busca donovo e de novos recursos, não apenas físicos, mas principalmente sígnicos, abremprecedentes para a utilização da hipermídia como forma de fazer arte.


Por meio do “fazer” pós-moderno, que se apropria do passado, a tecnologiamigra de recurso para linguagem, reafirmando que o meio é sim a mensagem. Essaconfirmação denota a relevância artística atribuída ao ambiente surgido. Esse discurso,nada inédito, é a repetição das críticas estéticas atribuídas à fotografia, ao cinema e, emdécadas mais recentes, ao vídeo.


A cena pós-moderna é essencialmente tecnológica (leia-se cibernética,informática e diversos outros rumos tecnocratas). A tendência das releituras por meio dotecnológico permite a migração do real para o virtual, criando uma nova realidade sobrea obra de arte e sua percepção.


Quando a informação se move a uma velocidade elétrica, o mundo dastendências e dos rumores torna-se o mundo real. (MACLUHAN,1992, p. 98)


Como lidar com a nova realidade estética? E autoria? Tem “valor” (entenda-se o”valor” definido por Benjamin) a obra feita no, e para o, hiperespaço? Existe de verdadeuma ruptura entre a estética e o técnico? O pensamento sobre o novo ambiente incita arevisão da filosofia do conhecimento. A estética já não está mais atrelada à técnica, esim ao meio. A tecnicidade com que a contemporaneidade nos presenteia abre debatespara questões estéticas infindáveis; novos paradigmas devem ser observados. A arte,que antes era privilégio de poucos, faz parte do dia-a-dia de milhares, por que nãomilhões, de pessoas por meio da hipermídia.


A facilidade que o computador proporcionou na integração de elementos,mensagens e estímulos através da multimídia se eleva à enésima potência com aspossibilidades da hipermídia, um ambiente totalmente voltado à percepção e àcomunicação. Uma informação migrada do analógico para o digital ganha repercussõesinimagináveis, além de se identificar em uma nova forma do saber que reúne os maisdiversos assuntos. Deve-se levar em conta, nesse pensamento estético, a união que nãosó às artes é permitida, mas a todas as outras ciências.


A contemporaneidade descortinou, e continua descortinando, olhares diferentessobre a história e sobre a produção, não só artística, mas total. As possibilidades que onovo ambiente proporciona ao fazer artístico ainda são ínfimas em função depreconceitos e preceitos teórico-disciplinares que ainda não utilizam ou não permitem aexpansão do território das artes.


A arte contemporânea vem se construindo a partir dos novos referenciaistecnológicos da contemporaneidade. Pode-se observar, em diversas áreas artísticas, autilização híbrida de artes e tecnologias. O termo “arte”, que abrange as mais diversasatividades do ser humano – pinturas, esculturas, música, teatro, dança, literatura ecinema –, está presente na hipermídia também.


A hipermídia extrapola o conceito de meio de exposição ou publicação, osartistas acabam por aproveitar suas características como forma estética de composição.Não só artistas, mas instituições como museus e empresas interessadas em cultura ecomunicação.


Com o desenvolvimento tecnológico e particularmente o aparecimento dainternet no mundo das telecomunicações, novas formas de expressão artística surgiram econtinuam surgindo ao longo de mais de trinta anos: é a ciberarte, é a Arte Eletrônica, éa Web Arte e muito mais.


REFERÊNCIA

Texto: Paulo Cezar Barbosa Mello

∗ Professor na graduação do Centro Universitário Ibero-Americano (UNIBERO) e na Pós-Graduação LatoSensu da Universidade São Judas Tadeu; pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) pelo ProgramaInterunidades ECA, FAU, FFLCH; especialista em Design de Hipermídia e publicitário.

SAMARAL, Aracy (Org.) Waldemar Cordeiro: uma aventura da razão. São Paulo:MAC, 1986.BAIRON, Sérgio. Multimídia. São Paulo: Global Editora, 1995.


BAITELLO JUNIOR, Norval. A mídia antes da maquina. JB on line, Caderno idéias,sábado, 16/10/1999.


BENJAMIN, Walter. Obra de arte na sua reprodutibilidade técnica. In: Os pensadores.São Paulo: Abril Cultural, 1980.


CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.COULCHOT, Edmond. A arte pode ser ainda um relógio que adianta? O autor, a obra eo espectador na hora do tempo real. In:


DOMINGUES, Diana (org.). A arte no séculoXXI: A humanização das tecnologias. São Paulo: Editora da UNESP, 1997.


FEUERBACH, Ludwig. A essência do cristianismo. Campinas: Papirus, 1988.


FLUSSER, Vilém. Ficções Filosóficas. São Paulo: Editora da Universidade de SãoPaulo, 1998.


GOMBRICH, Ernest H. A história da arte. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.


LEÃO, Lucia. O labirinto da hipermídia. São Paulo: Editora Iluminuras, 1999.


LUFT, Celso Pedro. Dicionário Brasileiro Globo. São Paulo: Editora Globo, 1997.


MACLUHAN Marshall. O meio é a mensagem. São Paulo: Hucitec, 1992.